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O título rejeitado

Foto – Reprodução: Unsplash/Glean Carrie

Carlos Alberto Silva

O eco da vitória de Juliana Viana no Campeonato Pan-Americano de Badminton, realizado em Lima, no Peru, ainda reverbera nas redes sociais e entre os apaixonados pela modalidade. No último domingo, ela não apenas conquistou a medalha de ouro, um feito notável em um dos torneios mais importantes do continente, mas escreveu seu nome na história do esporte brasileiro. Juliana tornou-se a primeira atleta do Brasil a alcançar o título individual nesta prestigiada competição, um marco inédito para o país no cenário do badminton pan-americano.

O Pan Am, tradicionalmente dominado por potências como Canadá e Estados Unidos, presenciou a ascensão de uma jovem piauiense de apenas 20 anos ao topo do pódio. Sua trajetória, iniciada aos seis anos de idade, é marcada pela precoce representação do Brasil na China aos 11 anos e pela audaciosa decisão de viver na Espanha por três anos, dedicados ao treinamento intensivo longe da família. Essa resiliência e determinação culminaram em uma vitória épica sobre a canadense Wen Zhang, em um emocionante confronto decidido em três sets, com parciais de 21/19, 15/21 e 21/8. No entanto, essa conquista parece ter sido ignorada pelos principais veículos de comunicação do país.

A questão que paira no ar, para aqueles que acompanharam a inspiradora jornada de Juliana, é: onde estava a mídia brasileira? A resposta, infelizmente, ecoa em um silêncio ensurdecedor. Nenhuma manchete de destaque, nenhuma nota relevante nos jornais de grande circulação ou nos telejornais de alcance nacional. A vitória de Juliana Viana, um feito de importância histórica para o esporte brasileiro, passou quase despercebida pelos radares da imprensa tradicional.

Nas redes sociais, a narrativa foi outra. Comunidades e perfis especializados em badminton celebraram efusivamente a conquista, exaltando o talento e a perseverança da jovem atleta. No entanto, essa homenagem permaneceu restrita a um nicho, sem alcançar a visibilidade que o feito merece e que certamente inspiraria muitos outros jovens brasileiros. É nesse ponto que reside uma profunda indignação, compartilhada por muitos que valorizam o esporte em sua totalidade.

Como um esporte olímpico, praticado por milhões de pessoas em todo o mundo, pode ser tratado com tamanha indiferença pela imprensa brasileira? A vitória de Juliana não é apenas um triunfo pessoal; é um motivo de orgulho para toda a nação, um poderoso incentivo para jovens atletas que almejam representar o Brasil em competições internacionais e que, muitas vezes, carecem de modelos e reconhecimento.

A ausência de cobertura midiática levanta uma questão crucial: por que o badminton, e tantos outros esportes, não recebem a atenção que merecem no Brasil? A resposta nos coloca diante de um paradoxo persistente: para que um esporte se torne popular, é imprescindível que a imprensa o divulgue, apresentando seus herois, suas histórias emocionantes e seus momentos de glória ao grande público. Mas como esperar que o público se interesse por algo que sequer lhe é apresentado de forma consistente?

É a clássica encruzilhada do ovo e da galinha. O esporte não recebe cobertura porque supostamente não é conhecido, mas, por outro lado, não se torna conhecido porque não recebe a devida cobertura. E nesse ciclo vicioso, talentos excepcionais como o de Juliana Viana acabam tendo suas conquistas minimizadas, ofuscadas pela falta de interesse da mídia dominante.

É imperativo romper essa barreira. É fundamental que a imprensa brasileira reconheça a importância de ampliar seu olhar para além do futebol, divulgando com entusiasmo todas as modalidades esportivas, especialmente aquelas em que nossos atletas demonstram excelência e conquistam resultados expressivos em nível internacional. A história de Juliana Viana é inspiradora e clama por ser contada, recontada e celebrada em todos os cantos do país, servindo de exemplo para as futuras gerações.

Se o objetivo é genuinamente fomentar a prática esportiva, incentivar o surgimento de novos talentos e construir um futuro mais saudável para a nossa sociedade, a mídia tem um papel crucial a desempenhar. Ignorar conquistas como a de Juliana é um desserviço não apenas ao badminton, mas a todo o ecossistema esportivo brasileiro e aos milhares de atletas que se dedicam incansavelmente em busca de seus sonhos, muitas vezes com recursos limitados e pouco reconhecimento.

A vitória de Juliana Viana não deve se limitar a um breve post nas redes sociais. Sua história precisa inspirar reportagens aprofundadas, entrevistas reveladoras e até mesmo documentários emocionantes. Que seu feito seja amplamente reconhecido e valorizado pela imprensa brasileira, abrindo caminho para que outros talentos como o dela possam florescer e para que o esporte, em sua rica diversidade, receba a atenção que verdadeiramente merece.

Juliana Viana personifica garra, talento e perseverança. Sua conquista histórica no Pan Am de Badminton é um grito de vitória que não pode ser silenciado. É hora de a mídia brasileira sintonizar-se com esse chamado e reconhecer o valor de nossos campeões em todas as modalidades esportivas. O Brasil precisa conhecer e celebrar seus herois, e Juliana Viana, sem dúvida alguma, é um deles.

*Carlos Alberto Silva é jornalista e diretor da Trio – Marca, Imagem e Reputação.

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